#Decisões Difíceis…
“… Nem sempre nossa história de amor trilha o caminho que desejamos, às vezes as decepções começam a se tornar insuportáveis e sufocantes, a distância cresce a cada dia, o sentimento vai recuando e você se pega pensando muito mais no passado do que no futuro e o presente é vivido em modo automático, quase sem paciência ou empatia.
Chega o momento em que você grita, você ignora, você pede mudanças, você chora, você implora por ajuda, você reza por uma solução e no final é sempre a mesma coisa, mais uma promessa quebrada, mais uma palavra não cumprida, mais um pedido ignorado, mais uma vez o sentimento de abandono, mais uma vez a sensação de que você não é importante, mais uma vez a diferença entre os filhos, mais uma conversa onde um vídeo game ou o jogo do celular é mais importante do que as primeiras vezes do filho mais novo, mais uma conversa desgastante sobre dinheiro e mais uma decepção quando você vê que nada faz efeito. Nada mesmo, nem conversas sinceras, nem discussões, nem pedidos amorosos e nem dizer que vai embora se as coisas não mudarem… Nada disso muda os fatos, nem sugerir terapia, para que um conciliador escute ambos os lados e os coloque na direção certa, mas sugerir isso é ultrajante e sem cabimento, querer uma reação é algo insensível e sem compreensão…. Cansa, cansa demais ser a última a ser considerada, cansa demais ver que tudo o que você faz não tem valor, cansa demais ver que quem destruiu a vida da pessoa que você ama, tem mais voz do que você, tem mais poder de ação do que você e consegue muito mais coisas do que você, principalmente quando se trata do filho…
Existe uma diferença gritante de um para o outro, uma diferença enorme de cuidado, amor, carinho, proteção, proximidade e conexão. Um já é bem grandinho, mas parece feito de cristal, tem atenção o tempo todo, é posto na cama para dormir, come o que quer e quando quer, tem todas as vontades atendidas, fica à vista o tempo todo e se respirar mais forte e não estiver contente o mundo acaba. Ja o outro tem meses, fica doente, chora, precisa de atenção constante, precisa ser ninado, alimentado, trocado e é facilmente substituído por um controle de vídeo game ou a tela do celular. Parece que não é interessante brincar com o mais novo, que dar bronca nele não tem tanto problema, que falar grosso com um bebê é normal, que não ver os olhinhos implorando por atenção enquanto uma tela tem muito mais importância é algo “cotidiano”, que deixar de estar com o bebê, tudo bem e é isso que magoa mais do que qualquer outra coisa no mundo…
Eu já cheguei a ouvir um “eu tenho dó de você, que esperou tanto tempo por ele e quando conseguiu, foi uma grande decepção”, isso me deixou furiosa e eu rebati, me afastei e blindei minha vida de pessoas e comentários como esse, sempre dizia “ele não é assim, é só uma fase, as coisas eram diferentes antes…” e hoje me pego pensando, será que eram mesmo? Ou será que eu só não queria enxergar como a realidade era? Será que eu pedi tanto por isso que relevava tudo e tinha lentes distorcidas que se contentavam com qualquer coisa ao invés de perceber que eu estava completamente sozinha desde o início? Não, eu me recuso a acreditar que foi sempre assim, mas infelizmente estou envolvida nesses pensamentos obscuros… Eu já ouvi muitas coisas e muitas vezes defendi o que tínhamos e disse que não era assim, que era uma só uma fase de adaptação na casa nova, até que chegou no ponto onde eu parei de defender, eu comecei a cobrar e aos poucos muita coisa começou a surgir, desde então eu não consigo mais ter uma conversa normal, não consigo mais ver um filme ou uma série com tanto interesse, não tenho vontade de fazer algo novo, estou entrando na fase de não sentir nada nem bom e nem ruim, só sinto vontade de sair de casa, de não ver a pessoa o dia inteiro deitada jogando ou sentada escrevendo sobre jogo, não quero mais fazer mil coisas com um bebê no colo e pedir ajuda para ser totalmente ignorada ou ter que parar o que estou fazendo e ir pegar novamente o bebê porque ele não quer ficar o tempo todo sentado ou deitado na cama competindo atenção com uma tv, não quero mais quebrar minha cabeça dia e noite pensando em como colocar comida na mesa e ouvir um, comprei um jogo novo, uma carta nova ou seila eu que porra que é a prioridade do momento ao invés de um “vou me apertar mais damos um jeito e eu te ajudo” ou um “vou arrumar outro emprego, seja no que for pra te ajudar em casa” ou até mesmo um “vou ajudar você com as tarefas de casa, assim você consegue focar na suas coisas e se reerguer” nada disso vem, nunca… Tudo o que eu escuto quando peço ajuda é “ eu ia jogar”, “esse mês não dá pra fazer nada”, “nossa queria comer um doce”, “nossa queria comer um taco”, “nossa você não me dá atenção”, “hoje é um dia arrastado”, “Tô trabalhando, agora não posso”, “Você nunca me entende”, seila as coisas só pioram com o decorrer do tempo, eu falo de oportunidades, falo de crescimento e o pessimismo e reclamação estão sempre em dia, mas ajudar a traçar um plano para o futuro nunca acontece e isso me consome e me desgasta demais, ao ponto de eu repensar toda minha vida e me perguntar se é hora de partir ou dar mais uma chance, até mesmo porque eu já fui acusada várias vezes de “desistir fácil demais das coisas”, mas a vontade sincera é de jogar tudo pro alto, mandar tudo para os ares e ir embora… Simplesmente pegar meus dois filhos e sumir no mundo.
Hoje mais uma vez eu me entristeci, nós não conversamos mais, não falamos sobre qualquer assunto como antes, só trocamos algumas palavras sobre trabalho, contas a pagar, como vai ser o fim de semana com as crianças e coisas banais de casa, você nem presta mais atenção no que eu falo, sempre que eu começo a me empolgar e conversar eu vejo que tem a porcaria de um jogo na tela, já se tornou um vício tão grande que você não tem mais controle, você come no celular, vê filme no celular , joga no celular, toma banho no celular e antes eu achava incrível seu hobby e sua paixão por jogos, hoje eu odeio com todas as minhas forças e se pudesse escolher eu tacava fogo em tudo. Você não tem equilíbrio, não pondera as coisas, tem sempre que estar nessa merda, parece um viciado em crack, não passa um dia sem e se alguém fala alguma coisa tá todo mundo errado e você é o incompreendido. Quando eu começo a falar sobre futuro, sobre estabilidade e segurança, ou qualquer coisa nova e positiva vem aquele balde de água fria do “não tenho saco para isso”, “eu estou tentando” ou qualquer frase pronta de negação ou rebote, parece que tudo que se fala é um ultraje, não se pode sugerir nada, sempre existe a boa e velha resposta do contra na ponta da língua.
A dura verdade é que eu não tenho mais tanta relevância assim, o que eu digo não tem mais tanto valor ou significado, cuidar de mim não é mais tão importante, cuidar dos outros filhos já não é mais tão legal, se não der para algo ser feito, tudo bem, afinal eu vou dar um jeito né ?! Me ouvir se tornou um fardo, ficar comigo sem a porcaria do telefone é impossível, dar atenção as crianças sem reclamar nunca é uma possibilidade, não jogar por um dia é a pior tortura do universo… Ah a doce ironia do destino… Lembrar da época em que nós ficávamos horas olhando o teto e falando sobre a vida, sobre nossos sonhos e sobre como éramos gratos por termos um ao outro parece um passado tão distante que doe, lembrar de como tudo era mais simples antes abre um buraco tão grande na minha cabeça que me faz questionar onde eu errei?, será que fui eu mesmo que errei? Será que foi tão grave assim que levou a isso? Será que tem concerto ? Será que um dia vai melhorar ? Ou será que finalmente vão ter o que querem e tudo vai acabar? Eu sinceramente não sei, mas da forma que está, não vai durar por muito mais tempo e isso é algo que eu nunca pensei que aconteceria, nem no meu pior pesadelo, isso é o que mais me entristece, porque dessa vez, só dessa vez, eu realmente achei que seria algo bom , algo tranquilo e leve, algo parecido com o eterno….”
#GDOV

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